sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Criacionismo

Uma prévia do trabalho. Divirtam-se


A Evolução do Criacionismo
O Criacionismo, como tudo no universo, também evolui. Mas, diferente de muitas outras coisas que apenas mudam sem ter necessariamente algum parâmetro, há uma nítida característica na evolução criacionista. Ou seja, o Criacionismo está submetido aos mesmos princípios de Seleção Natural, Adaptação e Sucesso Reprodutivo, que permeiam a evolução dos seres vivos. Em síntese, a evolução do criacionismo se dá no sentido de adaptá-lo, ou não, aos ambientes.
                                   CRIACIONISMO MITOLÓGICO
Essa primeira fase é caracterizada pela pura e simples leitura literal da Gênese como explicação para as origens, ignorando qualquer forma de explicação alternativa. Não havia diálogo com a ainda recente tradição evolucionista. Os poderes políticos locais onde o fundamentalismo cristão era forte simplesmente criaram leis para proibir o ensino do Evolucionismo.
O exemplo mais famoso é o Butler Act, do estado do Tennessee A lei, de 1925, tem esse nome devido a seu criador, o fazendeiro John Washington Butler (que era “deputado” local na “Câmara” representativa do estado). Ele admitia não conhecer coisa alguma sobre Teoria da Evolução, mas estava convencido de que ela era perigosa.
Verdade seja dita, não era uma lei muito severa. Previa no máximo uma multa de 500 dólares para o infrator, ainda que naquela época esse valor fosse relativamente bem maior do que é hoje. De qualquer modo, a pena praticamente não chegou a ser aplicada devido a lei praticamente não ter sido violada. (Observe que ela não proíbe o ensino de evolucionismo em geral, mas sim somente a origem evolutiva humana.) Embora tenha sido objeto de debates e críticas em diversas instâncias jurídicas, ela só foi definitivamente removida da legislação estadual em 1967.
Mas foi desta lei que, em 1926, ocorreu o famoso episódio Scopes Trial, também conhecido como "Julgamento do Macaco". Onde o professor John Scopes, orientado pela União Americana pelas Liberdades Civis deliberadamente violou a lei para chamar atenção para o absurdo jurídico e educacional que a caracterizava. Episódio este que gerou repercussão mundial e inspirou o filme Inherit The Wind.
Não fosse o caso Scopes e toda a imagem negativa que causou nos estados que adotaram tais leis, que ficaram com a pecha de retrógrados em plena era de modernização, é possível que o Fundamentalismo Cristão tivesse ficado satisfeito com o modo como as coisas eram, e assim como estava bem adaptado às Igrejas, o Criacionismo ficasse estacionado em sua espécie jurídica.
Mas as leis não puderam impedir que a evolução continuasse a ser ensinada, e sem conseguir eliminar o evolucionismo das escolas, o Criacionismo só tinha uma opção: EVOLUIR!


CRIACIONISMO "CIENTÍFICO"
Não tenho relatos de um único exemplo de alguém que tenha abandonado o cristianismo, ou deixado de se converter, por causa da Evolução Biológica ou qualquer outra questão naturalista. Mesmo assim os Criacionistas acham que a Teoria da Evolução é uma ameaça a sua fé, e então, para defendê-la, decidiram que ela não era suficiente. Não bastava a Bíblia, Deus e Jesus. A Fé precisava do apoio do Ciência.
O Criacionismo "Científico" é um conjunto de recursos argumentativos que visa mostrar que a Criação conforme entendida literalmente na Gênese. É um evento que pode ser inferido por evidências na natureza, da mesma forma como a Evolução é. Na verdade, vão mais longe. Apesar de nunca terem dado um único passo no estudo da natureza antes do evolucionismo, passaram a dizer que na verdade somente a criação era sustentada pelas evidências.
Evidentemente, é um ponto de partida bem complicado, pois EVOLUÇÃO, sendo TRANSFORMAÇÃO, é um FENÔMENO FACILMENTE OBSERVÁVEL. Pode não ser fácil observar uma longa série de transformações, e é evidentemente impossível observar toda a série de transformações ocorrida nos bilhões de anos passados. Mas isso não muda o fato de, em algum nível, EVOLUÇÃO É FATO. Se suas conseqüências estão sendo exageradas, é uma outra discussão.
Por outro lado, CRIAÇÃO NÃO É OBSERVÁVEL EM NÍVEL ALGUM. Não se pode ver sequer uma Micro-Criação para supor uma Macro-Criação. Simplesmente não há Criação alguma, em lugar algum, e nem sequer pode ser concebida sem violar o Primeiro Princípio da TERMODINÂMICA.
Portanto, o fundamento primário da "Ciência" Criacionista é absolutamente inexistente. Uma suposição cuja única alegação não vem nem sequer da Bíblia, onde também NÃO EXISTE CRIAÇÃO A PARTIR DO NADA. Para qualquer linha de pensamento que se proponha entrar na definição de ciência, isso é mais do que suficiente para inviabilizar a empreitada.
Além do mais, isso explica porque de fato não há uma única proposição científica criacionista. O Criacionismo "Científico" é, basicamente, uma série de críticas ao modelo evolutivo, da quais parte vem do próprio evolucionismo, parte vem da filosofia, e a maior parte pura e simplesmente de inverdades acerca do modelo evolutivo. O motivo da rejeição é o óbvio fato de que o Criacionismo "Científico" não se trata de ciência, mas sim de apologética religiosa, mesmo que, nos manuais produzidos para o ensino secular, se tenha tido o cuidado de suprimir a maior parte dos conteúdos abertamente teísticos e bíblicos. Como, no entanto, foi impossível disfarçar o teor religioso proselitista, isso levou ao outro motivo que é o simples fato de, sendo os EUA um país oficialmente laico, não pode patrocinar nem favorecer religião alguma por meio do aparelho estatal, que era exatamente a intenção dos criacionistas.
Enquanto o criacionismo anterior pretendia eliminar diretamente o evolucionismo, sem nenhuma condolência e pela pura e simples força autoritária, este, o Criacionismo "Científico", pretendia competir com ele, no terreno educacional extra religioso,

CRIACIONISMO "FILOSÓFICO"
Foi demonstrado juridicamente aquilo que é cientificamente consolidado e filosoficamente claro, que o Criacionismo não pode ser Ciência, e não pode deixar de ser uma Ideologia religiosa. Para todos os efeitos práticos, os criacionistas admitiram esse veredicto, tanto que o utilizaram em sua nova estratégia, que é acusar o Evolucionismo de ser da mesma natureza, isto é, uma CONSPIRAÇÃO IDEOLÓGICA, e não rara considerá-la como uma forma de "Religião Humanista".
Essa nova modalidade de criacionismo, não por acaso, irá se evidenciar na década de 1980, quando os criacionistas viram suas pretensões educacionais serem definitivamente frustradas. Dessa forma, partem para uma recuperação da velha estratégia, tentar impedir o ensino do evolucionismo. Não possuindo mais os poderes legais para uma simples proibição direta autoritária, tentaram então usar o mesmo argumento que os derrubou a seu favor, acusando o evolucionismo de não ser ciência, e como tal, também não poder ser ensinado em escolas. Diferente dos estágios anteriores, porém, há algo de válido no cerne dessa abordagem. É que evidentemente cabem críticas filosóficas ao modelo evolucionista, e a qualquer modelo científico, mas a Biologia tem a especialidade de ser uma área científica menos matematizada e mais voltada a sistemas complexos que as demais ciências naturais, o que torna uma teoria tão vasta e histórica como a Teoria da Evolução singular entre as demais teorias científicas. A Estrutura da Revolução Biológica. Ademais, essa nova forma de Criacionismo permite trazer para dentro do debate elementos e pensadores de peso, como Filósofos da Ciência e Epistemólogos, fazendo as críticas ao modelo evolutivo irem muito além das meras propostas teológicas e de críticas ingênuas de teor científico, ou mesmo desonestas. Exatamente por essa complexidade maior, no entanto, pode-se dizer que essa forma de criacionismo é muito menos popular que a anterior, e normalmente está quase sempre atrelada a outras. Em especial a próxima, a qual ajudou muito a se desenvolver.
Infelizmente, a maior repercussão foi baseada na acusação de o evolucionismo ser uma forma de religião, e se o estado não pode subvencioná-la, não poderia ela ser ensinada em escolas. Alguns exemplos foram os casos Segraves (1981) e Peloza (1994).